Eu já conhecia a tradição dos ovos decorados produzidos pelos ucranianos antes mesmo de conhecer minha esposa, que é de descendência ucraniana, mas só mais tarde fui descobrir o nome: PÊSSANKA.
Um domingo desses soubemos que estava tendo um curso de pêssankas na Igreja Santíssima Trindade em São Cristóvão e fomos lá conferir. Chegamos lá e o curso tinha sido no dia anterior, sábado, e o pessoal estava por lá apenas para terminar os trabalhos começados e escrever mais pêssankas. Ao acompanhar os jovens que lá estavam devo dizer, sem meias palavras, que fiquei completamente encantado com essa forma de arte. Informamos-nos imediatamente a respeito de um novo curso para também fazermos e soubemos que haveria um sim em Paula Freitas.
Quem estava coordenando o curso na Igreja Santíssima Trindade era o Sr. Vilson José Kotviski que tive o prazer de conhecer e conversar sobre o projeto "Pêssanka - Ovos Escritos, Expressão da Cultura Ucraniana no Brasil " que está sendo desenvolvido em parceria como IPHAN.
O projeto Pêssanka: Ovos Escritos, Expressão da Cultura Ucraniana no Brasil é um programa destinado à preservação do patrimônio imaterial desenvolvido pelo Folclore Ucraniano Kalena, coordenado pelo Sr. Vilson José Kotviski e selecionado no edital PNPI 2011 do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O projeto tem como objetivo pesquisar, registrar e difundir o conhecimento acerca da arte tradicional nas comunidades ucranianas rurais do Sul do Paraná e do Planalto Norte de Santa Catarina, buscando compreender a metodologia tradicional, as motivações e a visão no imaginário popular, estimulando a reflexão sobre os costumes tradicionais. Além disso, o programa possibilita a troca de valores entre as gerações, visando geração de renda, conservando as tradições e a consequente permanência dos jovens em suas comunidades pelo aproveitamento do potencial turísticos destas regiões.
Devidamente inscritos, fomos à Paula Freitas. Foi a 2ª Oficina do projeto e devo dizer que fui a Paula Freitas basicamente para fazer uma postagem sobre as pêssankas e levar três descendentes de ucranianos para resgatar uma tradição que nunca deveria ter se perdido em sua família, e não imaginei que voltaria de lá tão fascinado por essa arte.
Mal tinha pego a câmera para registrar algumas fotografias e lá veio o Vilson com os equipamentos e me disse que eu não ia deixar de fazer também. Pensei comigo "será que um descendente de italianos vai dar conta de não passar vergonha na frente dos ucranianos?"
E foi então que me surpreendi ainda mais. Os traços desajeitado de um principiante, pareciam que não produziriam um trabalho melhor do que uma criança, esboçando seus primeiros rabiscos num pedaço de papel, mas o resultado final impressionou-me pela beleza. Fiquei impressionado de como traços tão simples podem transformar um simples ovo numa belíssima tradição de um povo tão rico culturalmente.
Devo dizer que, ao final da oficina, quando minha esposa falou que precisávamos comprar as tintas para fazermos as pêssankas em casa, concordei na mesma hora. Conversamos com o Vilson que nos orientou a montar um kit básico.
Desde então, sempre que podemos estamos seguindo o Vilson em suas oficinas, já fomos à comunidade de Aquiles Stenghel, onde minha esposa reencontrou primas que há muitos anos não via. Fomos também à comunidade do Pintadinho e num curto espaço de tempo o que era para ser apenas uma postagem, inesperadamente já se transformou em uma paixão.
Para conhecer mais nosso trabalho, desenvolvido depois do projeto, acesse:
Quem estava coordenando o curso na Igreja Santíssima Trindade era o Sr. Vilson José Kotviski que tive o prazer de conhecer e conversar sobre o projeto "Pêssanka - Ovos Escritos, Expressão da Cultura Ucraniana no Brasil " que está sendo desenvolvido em parceria como IPHAN.
O projeto Pêssanka: Ovos Escritos, Expressão da Cultura Ucraniana no Brasil é um programa destinado à preservação do patrimônio imaterial desenvolvido pelo Folclore Ucraniano Kalena, coordenado pelo Sr. Vilson José Kotviski e selecionado no edital PNPI 2011 do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O projeto tem como objetivo pesquisar, registrar e difundir o conhecimento acerca da arte tradicional nas comunidades ucranianas rurais do Sul do Paraná e do Planalto Norte de Santa Catarina, buscando compreender a metodologia tradicional, as motivações e a visão no imaginário popular, estimulando a reflexão sobre os costumes tradicionais. Além disso, o programa possibilita a troca de valores entre as gerações, visando geração de renda, conservando as tradições e a consequente permanência dos jovens em suas comunidades pelo aproveitamento do potencial turísticos destas regiões.
Devidamente inscritos, fomos à Paula Freitas. Foi a 2ª Oficina do projeto e devo dizer que fui a Paula Freitas basicamente para fazer uma postagem sobre as pêssankas e levar três descendentes de ucranianos para resgatar uma tradição que nunca deveria ter se perdido em sua família, e não imaginei que voltaria de lá tão fascinado por essa arte.
Mal tinha pego a câmera para registrar algumas fotografias e lá veio o Vilson com os equipamentos e me disse que eu não ia deixar de fazer também. Pensei comigo "será que um descendente de italianos vai dar conta de não passar vergonha na frente dos ucranianos?"
E foi então que me surpreendi ainda mais. Os traços desajeitado de um principiante, pareciam que não produziriam um trabalho melhor do que uma criança, esboçando seus primeiros rabiscos num pedaço de papel, mas o resultado final impressionou-me pela beleza. Fiquei impressionado de como traços tão simples podem transformar um simples ovo numa belíssima tradição de um povo tão rico culturalmente.
Devo dizer que, ao final da oficina, quando minha esposa falou que precisávamos comprar as tintas para fazermos as pêssankas em casa, concordei na mesma hora. Conversamos com o Vilson que nos orientou a montar um kit básico.
Desde então, sempre que podemos estamos seguindo o Vilson em suas oficinas, já fomos à comunidade de Aquiles Stenghel, onde minha esposa reencontrou primas que há muitos anos não via. Fomos também à comunidade do Pintadinho e num curto espaço de tempo o que era para ser apenas uma postagem, inesperadamente já se transformou em uma paixão.
Para conhecer mais nosso trabalho, desenvolvido depois do projeto, acesse:
A origem da pêssanka ainda não foi totalmente desvendada. O termo “pêssanka” é proveniente do verbo “pyssaty” que significa “escrever”. Arqueólogos descobriram nas ruínas da igreja de Krylos, no coração da antiga Galícia, em 1992, na Ucrânia Ocidental, uma pêssanka de cerâmica datada de 1300 a.C. o que leva a acreditar que os mais antigos ovos “escritos”, produzidos com ferramentas rudimentares, poderiam ter sido criados pelo povo ancestral da cultura Trypillia, que vivia em vasta área do território ucraniano, desde 3000 anos a.C.
Na era da Ucrânia pré-cristã, a pêssanka representava uma dádiva ao Deus Sol, símbolo essencial e o mais antigo dessa cultura. O Sol representava um Elemento vital no continente europeu, pois fazia a vida ressurgir na primavera, depois dos implacáveis meses de inverno, derretendo a neve e trazendo nova vida às negras e ricas terras da Ucrânia. Nessa época o povo tinha suas crença ligadas à natureza, voltadas instintivamente para aquilo que via e sentia.
Os ucranianos, assim como outros povos antigos, veneravam o sol, o Dajbóh, e a ele ofereciam homenagens, pois novamente traria luz e calor à Terra e assim gradativamente o verde substituiria o branco da neve, as flores voltariam a desabrochar, as árvores ofereceriam seus frutos ao povo que poderia trabalhar a terra para obter seu sustento.
As festas da Primavera era um evento alegre. Desde o início deste dia o povo estava em festa, era acesa uma grande fogueira no meio da aldeia e todos comemoravam a chegada de Dajbóh, no exato momento do Solstício de Primavera.
Nesta festa eram oferecidas pêssankas a Dajbóh e aos entes da natureza, fazendo seus agradecimentos pelas colheitas e também firmando seus pedidos para que a terra continuasse produzindo tudo aquilo do que necessitavam para viver. Estas pêssankas eram enterradas no campo, nas lavouras, pois deveriam ser presentes aos amados entes da natureza.
Uma explicação para tal interesse do ser humano antigo pelo ovo, reside no fato dele possuir uma magia incrível, pois através dele, de uma forma simples e rude, surge a vida.
As ferramentas para a arte de escrever as Pêssankas evoluíram gradativamente e com elas o homem conseguiu melhorar suas condições materiais e também os resultados, surgindo melhores definições daquilo que desejava expressar.
A partir do ano 988 d. C., através do Príncipe Volodymir a Ucrânia é batizada nas margens do Rio Dnipró passando a adotar o cristianismo como religião oficial. O povo absorveu essas mudanças e não aceitou abandonar seus antigos rituais, como as Festas da Primavera. A Igreja então incorporou seus símbolos religiosos aos rituais festivos e à confecção dos ovos.
Astutamente, a solução encontrada pela igreja foi adaptação destes antigos costumes, aos símbolos cristãos, ou seja, permitiam e até apoiavam o povo à manter essas tradições consideradas pagãs, mas atribuíam a eles um simbolismo correlato ao cristianismo.
A antiga e tradicional Festa da Primavera, transformou-se na Páscoa Cristã, por se tratar da mesma época. O povo continuava com os antigos festejos, mas mudava-se gradativamente o sentido da ocasião festiva. As pêssankas, continuaram existindo, o povo não deixou o costume de colorir ovos para expressar seus sentimentos, mas o clero religioso fez com que se abandonassem as crenças nos entes da natureza, deviam ser extintos os costumes tidos como pagãos.
Passou-se então a se fazer pêssankas para dar aos parentes e amigos respeitados, na época da Páscoa, para expressar através delas, tudo aquilo que desejavam a seus entes queridos. As pequenas obras de arte também passaram a aparecer em datas importantes, como casamentos e nascimentos, como materialização das boas intenções que se queria expressar.
Na conturbada história da Ucrânia, o povo passou por muitos períodos de instabilidade social, tendo muitas vezes a miséria e a opressão imperando sobre seus lares. Domínios russos, poloneses, austríacos, húngaros, duas guerras mundiais e o comunismo.
Durante o regime comunista e ateísta as pêssankas foram proibidas no país, mas continuaram a serem produzidas longe das grandes cidades. No Brasil, assim como em outros países que há descendentes de ucranianos são produzidos na época da páscoa.
Depois da independência da Ucrânia em 1991 elas voltaram a ser produzidas, exigida pela população que saiu às ruas. Hoje, além do seu valor cultural, simbólico e artístico, as pêssankas passaram a ser um símbolo de longevidade para uma Ucrânia livre e independente e além disso, a pêssanka é uma simbiose de seu significado pagão, a saudação ao renascimento da natureza na primavera com o principal sentido da cristandade, a celebração da Ressurreição de Cristo, o renascimento da alma do Homem.
COMO ESCREVER UMA PÊSSANKA
Vou tentar, resumidamente e ingenuamente, pois meu conhecimento é limitado, descrever como é o processo de escrever uma pêssanka. Por mais estranho que pareça a expressão "escrever pêssanka" a quem não está habituado está correta, não se usa dizer "pintar uma pêssanka".
Para se criar uma pêssanka é preciso de ovos brancos de codorna, galinha, ganso ou avestruz. Não existe tinta branca para colorir uma pêssanka então cada vez que você olhar um detalhe branco em uma delas é porque aquele lugar não foi colorido artificialmente, está com sua cor natural.
Escolhido o ovo é então feito uma limpeza com vinagre para tirar qualquer impureza que prejudique o processo de tingimento. A partir daí não se coloca mais diretamente as mãos no ovo a não ser com um papel para que a oleosidade das mãos não impeça a tinta de colorir o ovo.
Com esse devido cuidado é feita com um lápis a divisão básica da pêssanka, segundo o Vilson todas as pêssankas começam da mesma forma, com essa mesma divisão básica. A partir daí é que é feita a escrita que será colorida, sempre respeitando a tradição do simbologismo ucraniano.
Os ovos são coloridos por imersão em tinta, ou seja, quando mergulhado na tinta tudo vai ficar daquela cor. Por essa razão tudo que é branco é feito primeiro, e é aí que a diversão realmente começa, e a dificuldade também.
Tudo que deve permanecer branco tem que ser coberto com cera de abelha. Simples de falar mas difícil de executar! Com auxílio de uma vela, cera de abelha, e um instrumento desenvolvido para isso e que é chamado de pena, você começa a proteger as partes brancas do ovo que deverão ser brancas conforme o que você escreveu na pêssanka.
Depois de tudo coberto, é a vez da tinta amarela. Você faz a imersão do ovo na tinta amarela e então passa a cobrir de cera tudo que deverá permanecer amarelo, segundo a sua escrita.
Feito isso as cores vão se alternando, conforme a sua tonalidade até chegar à ultima, o preto. Como o último banho normalmente é o da cor preta, ela não precisa ser coberta com a cera de abelha. Finalmente a pêssanka está pronta, ou quase isso.
Ao final desse processo você estará com um ovo totalmente preto nas mãos, nesse ponto já não precisa segurar mais com um papel. O interessante é que você terminou a pêssanka, mas não sabe como ela ficou, e daí então vem a parte mais prazerosa de se escrever pêssankas: a revelação!
Revelar a pêssanka é algo mágico, você leva o ovo preto que está em suas mãos até a lateral da chama da vela e aquece a cera até vê-la derreter, passa rapidamente um papel para retirá-la e por baixo de toda a cera, seu trabalho enfim começa a se revelar.
Algumas partes das etapas acima descritas podem ser vistas no vídeo abaixo,inclusive a revelação de uma pêssanka:
3 comentários:
Olá, ótima matéria! gostaria de saber qual o tipo(s) de tinta podem ser usados para colorir a pêssanka e onde adquirilos.
Olá, ótima matéria! gostaria de saber qual o tipo(s) de tinta podem ser usados para colorir a pêssanka e onde adquirilas.
As tintas usadas para colorir as pêssanka são exclusivas para isso. São tintas especiais importadas do Canadá e são de uma variedade de pouco mais de 10 cores ao que me lembro. Só que, como cada ovo reage de forma diferente, parece que a gama de cores é bem maior. Para você adquiri-las precisa entrar em contato com o Sr. Vilson José Kotvinski no seu local de trabalho que é a Ótica Iguaçu em Porto União - SC, o telefone é (42) 3522-1996. Ele importa com certa frequencia e sempre tem todas as cores em estoque.
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